O estrategista versus o imediatista: quem está certo?
Essa questão acompanha minha trajetória profissional desde que passei a atuar em forma de consultoria, há mais de 15 dez anos. Em quase todas as empresas por onde passei pude notar esse dilema entre os empresários, empreendedores e gestores.
Por um lado, a maioria dos proprietários de um negócio são imediatistas: iniciam suas atividades empresariais “na cara e na coragem” por inúmeros motivos. Falta de incentivo ao empreendedorismo, falta de apoio dos governos, falta de uma educação empreendedora e até a cultura do brasileiro de fazer as coisas empiricamente. Uma grande parcela dos empresários brasileiros nunca chegou a sequer saber o que é um Business Plan ou um Planejamento Estratégico de Marketing. Alguns outros até tomaram conhecimento destas documentações mas consideram isso uma burocracia desnecessária. Já ouvi mais de uma pessoa me dizer que isso é “coisa de multinacional”.
De certa forma, não se pode culpar estes donos de negócios, afinal o Brasil nunca possuiu uma cultura de planejamento e desde a escola as pessoas são doutrinadas a serem funcionários obedientes. Sei que este cenário vem mudando com a influência de entidades como SEBRAE e Endeavor, mas esse é um processo que leva tempo. Em termos gerais o empresário brasileiro está muito mais preocupado em honrar seus compromissos com fornecedores e arcar com os altíssimos encargos trabalhistas.
Por outro lado, os estrategistas mais catedráticos insistem que implantar técnicas, modelos e metodologias consagradas da Administração e do Marketing é indispensável a qualquer negócio que deseje prosperar.
Some a isso tudo um estudo realizado pela professora indiana Saras Sarasvathy sobre Effectuation. Eu pude assistir a uma palestra online sobre este tema, onde ela constatou que entre dezenas de empreendedores, 89% começaram seus negócios sem muito planejamento e tomam decisões a partir de suas próprias realidade e conhecimentos.
Minha opinião sobre este assunto, e a prática que costumo implantar nas empresas em que presto consultoria, é que o planejamento é fundamental, porém num escopo adequado ao porte da empresa. Isso quer dizer que pegar o modelo de Planejamento Estratégico utilizado pela Unilever e tentar implantá-lo em uma indústria de médio porte, certamente dará errado, afinal a maioria das demandas deste modelo sequer existe para um negócio de médio porte. Entretanto isso não é desculpa para descartar planejamentos e estratégias.
É possível desenvolver um modelo de planejamento mais sintético, que demande menor tempo de elaboração e que atenda às necessidades de empresas menores. Tanto isso é verdade que os especialistas em empreendedorismo vêm desenvolvendo metodologias ágeis como Scrum, Lean e Canvas que podem ser facilmente aplicadas a qualquer tipo de negócio. Além destes modelos padronizados, um bom gestor de marketing também pode desenvolver um modelo enxuto que se aplique à empresas de pequeno e médio porte e a setores econômicos diversos.
Dessa forma, entendo que a solução ideal é a empresa possuir um perfil e visão estrategistas associados a habilidades operacionais ágeis e modelos de planejamento e gestão que atendam à urgência de ter resultados eficazes.